Coreia do Sul

É Possível ser fã de kpop e socialista?

Você provavelmente já deve ter se perguntado: como é possível uma ligação entre o fenômeno kpop e comunismo? Podemos ser comunistas e não ouvir apenas a banda do exército vermelho? Kpop não é o gênero degenerado do capitalismo?

Existem duas principais razões para se acreditar nisso.

Uma delas, vinda de um público geral, é a de que o kpop é uma criação do capitalismo. A outra surge das críticas vindas dos próprios consumidores do estilo musical, que é o fato do kpop ser produzido através de uma exploração intensa dos ídolos. Desde sempre a indústria kpop é repleta de problemáticas em suas estruturas e no tratamento com os artistas.

Para o kpop, o idol precisa ser um artista “completo”, tendo que ser perfeito em diversos sentidos e ainda uma figura “apresentável” para uma sociedade que é perpassada por preconceitos e estigmas, como padrão estético, sexualidade, comportamento, etc.

Mas apesar de muitas pessoas sugerirem que a causa desse problema seja a cultura sul-coreana, afirmando que, nela, a cobrança sobre as pessoas para entregar perfeição nela é muito grande, seria mentira dizer que no ocidente a coisa é diferente.

Para ter sucesso aqui também é necessário trabalhar incansavelmente, fazer vários lançamentos por ano, se manter nos padrões de beleza, fingir um comportamento aceitável e muitas outras coisas. Seria inocência pensar que artistas como Anitta realmente fazem tudo como querem e não estão seguindo uma estreita linha do que é favorável ao sucesso do seu próximo single e garantir os contratos de patrocínio. Pense, quantos artistas brasileiros que estão em mainstream nunca fizeram nenhum procedimento estético, por exemplo?

Segundo a Sociedade Internacional de Cirurgias Plásticas (ISAPS) nosso país é o segundo onde mais se operam procedimentos estéticos, é só pensar no sucesso que foi a harmonização facial. No entanto, isso na nossa cultura nunca foi tão demonizado como é quando se fala da cultura sul-coreana.

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Gráfico da ISAPS

Não vamos nem comparar a quantidade de artistas que já sofreram assédio, precisaram fingir relacionamentos e desenvolveram transtornos mentais tanto no nosso país quanto na Coreia.

Essa concepção de que o Oriente é o epicentro das extremidades culturais, onde tudo é exageradamente estranho e bizarro, é puramente o que chamados de orientalismo.

Sendo assim, se comunistas não podem escutar kpop, ninguém deveria poder escutar nada mainstream, afinal tudo perpassa sofrimento, exploração e lucro para grandes empresas.

Mas, se até entre culturas diferentes as questões são semelhantes, então qual é o REAL problema? Horas, aquilo que existe em comum entre as duas culturas, o nosso atual sistema capitalista!

O sistema em que vivemos é o responsável por fazer com que a demanda por produtos musicais seja pautada em padrões tão tóxicos. Enquanto a música, assim como todos os bens de consumo, forem produzidos nesse sistema, haverá exploração.

“ah, mas, ainda assim, kpop é um produto do livre mercado! Vocês são hipócritas por ouvir”. Será mesmo?

O nascimento do kpop na verdade surge em um contexto onde a Coreia do Sul se despedia de uma crise econômica, e a nascente indústria musical aparecia como uma alternativa de melhoria para a economia do país.

Para o sofrimento dos liberais, é justamente o Estado, poder público, e o planejamento econômico que iniciam o suporte e financiamento do crescimento dessa indústria.

“Mas ainda assim, kpop é um fruto do capitalismo incentivado por um estado burguês!”

Isso é verdade? Absolutamente sim. O kpop existiria sem o capitalismo? Muito provavelmente não, assim como a classe trabalhadora, a exploração, os movimentos proletários e o comunismo em si.

Não podemos destacar o suficiente o quanto o capitalismo na verdade não faz nada. São os trabalhadores que, ao usar sua força de trabalho, criam tudo que existe no mundo

Temos que extinguir a mentalidade de que o capitalismo produz algo. Por acaso ele sabe cantar, dançar, filmar, criar melodias, compor e todas as outras coisas que giram em torno do resultado final do kpop?

Dessa forma, quem cria o kpop, assim como todos os bens de consumo, são trabalhadores. Pessoas que aplicam seu tempo e seu esforço na criação de algo. Ou seja, idols, produtores musicais, compositores, técnicos de som, técnicos de imagens, designers, publicitários, coreógrafos etc.

Pelo contrário, o público do kpop se mostra bastante engajado em tentar combater os males que o capitalismo produz, muitas vezes sem contar com uma formação política.

Por isso é importante apoiar e orientar cada vez mais jovens que gostam do gênero musical a compreenderem cada vez mais os efeitos diretos e indiretos da exploração capitalista.

Gostar de kpop, em vez de significar apoiar o capitalismo, para nós é estar consciente dos males do sistema capitalista onde o Kpop esta inserido e buscar ativamente combatê-lo, enquanto se escuta um bom hit, é claro.


Carlos Henrique, Marcos Martins, Laura Brito, KPR – Kpop pela Reunificação

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